quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Caixa de memórias

sozinho e ninguém,
não há mais o que falar.
pois se me sinto incompetente, preguiçoso e dissimulado
pois se ando ansioso e flutuante
pois se sou essa confusão mesmo,
tudo isso misturado numa caixa de memórias
não poderia esperar outro desfecho.

cruel? irônico? trágico?
insosso e gritante!
ou apenas insosso, que seja.
e eu, culpando a lua e a grama,
percebendo-não-percebo que é aqui
onde as desculpas não têm vez.

porque é sempre assim.
porque triste foi você estar do meu lado,
e eu sabendo-não-saber.
mas, triste mesmo é eu só poder ouvir o som dos seus passos e risos
e nem ao menos conhecer sua rotina.

dissimulá-la,
dissimulado que sou.
imaginá-la.
mas eis-me aqui.

nas linhas e em tudo o que vai entre elas.
no vão das mãos,
e nas marcas que esses pés meus deixaram há um tempo.

onde?

all the lonely people, where do they all come from?



segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Amores achados e perdidos.

É na noite, no bar pobre, de piso trincado, balcões encardidos e lâmpadas amarelas, que homens decrépitos, agarrados aos corpos e as cinturas das moçoilas, se tornam reis. O Álcool e sabe-se lá o que mais sobem à cabeça, descarregando emoções e potencializando fortalezas. É a vida que passa pela madrugada. Ou são as necessárias madrugadas atravessando a vida?
Discursos ferozes e sensíveis. É o poder de mando que se perde no vento, mas vai se renovar no gole de amanhã. A salvação do mundo está nas palavras destes notívagos da perece esperança e da sempre adiada realidade, que desfraldam a bandeira da vitória como se a vida fosse tão somente um detalhe e o bar um eterno presente.

Depois da porta dos fundos, surge o paraíso num acanhado corredor com entradas lado a lado. Desvairados noturnos, vampiros em festa sugando fugazes prazeres ao som de canções derramadas de paixão. Lá na frente para a rua, as vozes gerais, uma babel de sons; os risos abertos e os sentimentos expostos; e os movimentos, sob o ritmo de uma trágica alegria, com hora certa para ter fim, mas com dia marcado para recomeçar...É a catarse programada para o confronto com as tensões, medos e impotências diversas.

Amores achados e perdidos. Sob a luz âmbar, as meninas sem inocência, de todas as idades, estrelas brilhantes, parceiras da noite e de tantos quantos forem buscar conforto, girar seus saltos, e ativam todos os sentidos. Aliviam as dores dos homens ao mesmo tempo em que se esquecem das suas. Encontros nos descaminhos, prazer e sobrevivência, perfumes e suores diversos, mistura de odores e sonhos, palavras soltas e confidências relapsas, beijos cálidos e abraços amigos...
Um mercado de ilusões em que a troca é mais que urgente, é a essência para prosseguir. Enquanto isso, as mariposas dão rasantes suicidas em direção as lâmpadas. Tal qual as meninas. No bar proibido para menores e para maiores virtuosos, a noite é a rainha permissiva.

No primeiro olhar, um ambiente de decadência explícita, a reunião dos que ficaram à margem por razões distintas e não podem ou não querem atravessar para o outro lado. É a soma e a interatividade de todos os vícios. São os escombros morais.

Lados opostos e próximos. O outro olhar é aquele que enxerga além dos móveis e objetos tristes e gastos, dos cômodos pequenos e simples, das garrafas vazias, das canções e das paixões descartáveis. É aquele que tenta clarear as luzes do teatro para desnudar os personagens, tirando-lhes a maquiagem para encontrar o real e compreendê-lo. Esse olhar que busca o entendimento é o que vai fazer poesia...

domingo, 18 de agosto de 2013

3, 2, 1...

Não sei se escrevo por você
Porque, talvez, seria mais correto escrever para você.
Seria?

Muitas perguntas. Míseras respostas.
Você sabe que o tempo passou
Inevitavelmente, como sempre passa.
Todos sabemos.

Mas, também sabemos que há sempre algo que não passa.
Que não muda.
Aquele ponto, lembra-se?
O mais distante do sol.

E mesmo que muitos nomes me tomem a casa,
As penas, os cadernos, suas capas, todas as suas folhas,
Todos os meus papéis,
Sabe que haverá sempre algo de mim (e de ti) aqui. Imutável.

Essa é toda verdade que posso oferecer.
E meus abraços (sempre) sinceros.
Pois não consigo mais controlar as palavras.
Às vezes, elas vêm num turbilhão, isso é tudo o que aprendi.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Ser-tão Você

Em rumo incerto de pedra e pó
Caminho em passos rasos
Pés descalços e arranhados
Pernas que choram piedade

Nesse tal roçado
O chão não tem fim
E a minha espera
Padece em vão

Sem hora
Toca-me em sol
Tenha dó do meu si

Chove-me poeira em abundância
E venta em mim tanta água
Que em minhas mãos
Até os dedos me escorregam

A minha dor tão amanhecida
Sonha sua regência em algum lugar
E a pede em sopro
Mas assim, em som abafado

Sem hora
Toca-me em sol
Tenha dó do meu si

Meus lábios secos te guardam
E aguardam sua sede cair do céu
Que só me traz o escuro e medo
De te perder em minha solidão

Porque viver com o meu sofrimento
Só composição suporta
E meu lamento só quem pode
Quem faz é o violão

Moça
Toca-me em si
Tenha dó do meu sol.

domingo, 4 de agosto de 2013

Viajante

Estou, dois metros por segundo, a caminho de um herético ato!!

Frente à sua quietação, saquei uma extorsão:

ou me deixa ficar, ou aumento pra quatro.


Agora, a oito nós, particular toada de cruzeiro,

rogo que nós, de uma vez, troquemos a sós.

E para efeito argumento que

o passo ainda é lento,

porém, tenha dó.



Prepare um terreno forrado de aragem,

fresca, brisa e desnuda paisagem.

Já que o meu aerodinâmico ser

descreve um viver,

mil milhas por hora,

em trajeto descente

e sem escalas

rumo ao destino indecente de afanar piedade.









Mais direto, impossível.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Verde claro

Se se encontraram de novo

Ninguém poderia saber

Só sabia que faziam falta


Falta à rua, à neblina, aos pés ainda nus

Que assim, nus, sentiam ainda mais frio por estarem sozinhos

Machucados pelo asfalto já gasto

Impuros até.



Se os veria de novo

Ninguém!



Apenas esperava pisar em grama

Orvalho

Sendo acariciada por dentes-de-leão ainda não desfeitos.

Poder um dia se deliciar com aquelas amoras.

(Fazer geleia?)


Se isso ocorresse, sim,

Poderia encostar a cabeça em seu peito

Sentindo-lhes o respirar.


Novamente.

100

A porta se fecha assim como o meu coração. Num brado sem ar, sem fôlego, sem sentido eu me entrego a ti. Não pensando no depois, nem no agora. Pra ser sincero não sei no que eu penso. E esse, assim como tantos outros, terminam sem final...