Talvez o ônibus não passe nunca. Quando ele passar, o
trânsito vai me irritar. Assim como quando estou ao volante. Eu vou desejar
muito que algo me distraia, mas é impossível ouvir uma música enquanto o trânsito
me atrasa para chegar ao meu destino. Forçar a atenção, ou qualquer gesto que
vai contra essa permanente tensão, me dá tontura. Começar algo sem ter a
certeza do cenário final, para uma mente ansiosa, é no mínimo frustrante.
Minhas mãos vivem suadas. E eu sei o motivo. Mas explicar a sensação de que
algo vai dar errado, que o carro irá bater, o céu escurecer, é completamente
incompreensível. É completamente incompreensível sentir náusea por não
conseguir arrancar uma pele do dedo.
Quero que esses apagões de memória parem, os de sentimento
também. Quero que meus gatilhos respeitem o tempo, porque é completamente
incompreensível sair de um lugar e esquecer que devo voltar. É completamente
incompreensível pensar antes do acontecimento e não atravessar a rua porque
algo te faz crer que um carro vai te atropelar. É completamente incompreensível
você dizer por ai que vive com sono, mas não consegue dormir direito por medo.
Esperar enfartar a qualquer momento é muito incompreensível.
Quem teria a coragem de contar a um amigo: “Eu tenho certeza que vou enfartar.”
Ninguém.
Ninguém falaria para um amigo porque isso é completamente incompreensível.
Ninguém falaria para um amigo porque isso é completamente incompreensível.
É
completamente incompreensível prevenir sofrimento, como se esse tivesse data e
hora marcada.
É completamente
incompressível achar que alguém entende completamente o que eu escrevo.
É completamente incompreensível ser uma pessoa ansiosa.