segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Funeral Blues

Parem todos os relógios, calem o telefone, 
Impeçam o latido do cão com um osso para a fome, 
Silenciem os pianos e com tambores, chamem a vinda do caixão, deixem que os desconsolados clamem. 

Que aviões circulem no alto, um voo torto, 
Rabiscando no céu a mensagem: ele está morto. 
Que se coloque nos brancos pescoços de pombas coleiras pretas, 
E os guardas de trânsito usem luvas de algodão negras.   

Ela era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste, 
Minha semana de trabalho, um domingo calmo,
Meu meio-dia, meia-noite, minha fala, minha canção; 
Eu pensava que o amor duraria para sempre: eu não tinha razão.  
 
Não me importam mais as estrelas; tirem-as da minha frente,
Empacotem a lua, desmantelem o sol quente, 
Despejem o oceano, tirem as florestas de perto: Pois agora nada mais pode vir a dar certo.

W. H. Auden 

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Menino

Menino tão desinteressado que ganhou pódio de egoísta. Ele se reinventou. Feridas cicatrizadas, liberto, mas tão só… 
Menino porreta, falastrão. Não fingia contento. Abusava da sua existência impopular e não arcava rédias. Bravo como um leão. Era tachado de dissimulado, faísca, entorpecedor. Sem papas na língua, girou contra o lado que o mundo inteiro favorecia e agora é auto-suficiente. Nada o choca, nada o prende e seu único princípio é auto-mutilação. É estar sozinho. Desaglomerar deslizes proporcionados à ele mesmo. 
Oh, menino…
Tens medo de derrapar? Quem é essa guria que te manipula? Cadê você? Tira esse semblante de monstro e chora. Limpa esse acumulo de choro do peito que você esconde por detrás dessa estrutura mentecapta e chora.
Chora, menino… 

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Louco

O instinto de um amor louco decifra a aptidão de um ser sustento de regalias e estabilidade. O amor louco fere o próprio louco. Quando mais fundo mais combustível. Um sedento ser de medíocres carências e parâmetros de afetos que não podem ser substituídos. Uma demonstração de que estou sendo amado, um toque, um sorriso, um abraço, um beijo. Nessa ordem. Preciso acordar e vê-lo nutrir as fibras do meu corpo. Sempre na mesma frequência. Não de esse sorriso amarelo! Eu ainda estou aqui. Me "revenere". 

O amor louco de cão, nesse peito que explode e não sai do lugar. Agride os órgãos e engole a seco a saliva azeda que tem vontade de sair num grito. O medo imerso do abandono, como uma criança indefesa tentando dirigir um carro. Meu amor é louco e eu também sou louco. 

Eu sou feito de amor e meu amor é só loucura. 

Pois é Pedro, o mundo caiu.