sexta-feira, 27 de junho de 2014

O coringa.

Você pode não ser a carta mais perfeita do baralho. Pode não se achar a mais bonita dele todo (o que eu sempre vou discordar). Pode não ser a pessoa mais inteligente do mundo, a mais carinhosa, a mais cuidadora. Pode ate se sentir insuficiente pra alguém o tempo inteiro. Você pode isso tudo. 

O que você não pode deixar de saber, é que de todas essas cartas do baralho, todas essas que tentam desesperadamente chamar a minha atenção, eu fui me apaixonar logo por aquela que não moveu um nada para me conquistar. 
Aquela que se apresentou pra mim cheia de imperfeições, de alma limpa. De coração aberto.
Aquela que me fez me apaixonar por cada detalhe, os certos, os errados. Aquela que mostrou pra mim que há perfeição na imperfeição. 
Que há carinho na falta de carinho. 
Que ha amor onde ele nunca habitou. Que há alguém que, contrariando tudo, me mostrou que ser igual a mim, me trouxe a verdadeira felicidade. 
A plena. 
Aquela que não vem de fora pra dentro, mas de dentro pra fora. 
Aquela que não aparece em uma carta, aquela que não precisa aparecer o tempo todo pra mim para mostrar que existe. 
Assim como você não precisou nunca ser nenhuma das cartas, das 52, pra poder se fazer presente do meu lado. 
Na minha vida.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

A culpa é das estrelas

O teu silêncio é um grito
Em meus ouvidos nesta noite
Seus beijos são vivos como as estrelas
Com a mesma magia te vejo no luar de outrora
Queria eu me levantar e teus olhos fitar
Queria eu na manhã te dar

O sorriso do meu olhar
Queria você ao meu lado
E a tua mão segurar
Te provar o quão verdadeiro
É esse sentimento que invade

Que me toma por inteiro
Ocupa os meus espaços
Não tem princípio, nem meio
Muito menos um final
Meu ser clama num delírio

Um desejo que me consome
Preciso do mesmo ar que respiras
Anseio pelo amor que me inspiras
O calor do seu corpo no meu
Para saciar-me por inteiro
Como alimento que busco
Nos instantes de meu dia

Quero a magia do sonho
Quero deitar-te em meu ombro
Mostrar que tudo mudou
Que a vida está diferente
Que o amor está com a gente
Que a dor aqui, não tem vez
Que estamos juntos agora
Cúmplices nesta jornada

Sentimos nesse momento
O poder de um grande amor
A força que ele nos dá
A coragem de arriscar
Ele nos tira da solidão
Nos faz conhecer a paixão
O céu cabe dentro do peito
E o amor vira constelação...

terça-feira, 17 de junho de 2014

Voar

Qual maior inimigo que a força interior?
Um fogo natural, uma pressão íntima torcendo os significados, os tempos, os entendimentos emocionais.
Qual maior inimigo que a ausência desse combustível?

Um buraco triste e ventilado, uma brisa fria em lugares escuros, ouve-se o barulho das árvores roçando-se, mas onde estão as pessoas? Ou os valores? Quero sentir tudo ao meu redor, mas falta-me a chama a iluminar as cores.

Esses dragões que revoados, esses dragões guardados em cavernas, esses dragões indomesticáveis, onde estão que chegam e vão com asas só deles, com céus só deles, com luas apenas deles. Onde e como guardar em mim a sujeição desses bichos que quando longe faz tudo ser noite e quando perto tudo se torna uma batalha em alturas lunares, como e onde Dragão?

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Devaneando

O medo, quando dentro de um quadro em que é possível se lidar com ele, é até benéfico, na medida em que faz parte de nosso instinto de sobrevivência. Para que os nossos medos não fujam de controle, é preciso que eles sejam equilibrados pela razão e pelo bom senso. É preciso usar esses amigos, chamados razão e bom senso, não para fugir de nossos medos, mas sim para com eles acender a luz de nossas emoções e tomar contato com aquilo que tememos. Nesse momento, lembro-me de mamãe, que me ensinou coisas que a escola não ensinou, ou seja, as escolas deram nome e forma àquilo que ela me ensina desde pequeno. E mamãe dizia, sempre, que muitas vezes o medo é maior do que aquilo que temos que fazer. E que quando encaramos e fazemos, o medo parece ridículo! E não é que ela tinha razão? Em outras palavras, ela estava dizendo o que os compêndios de psicologia dizem com outras palavras, ou seja: acenda a luz e encare seu medo, em vez de fugir dele... de repente, aquilo que mais tememos pode não ser tão temível assim! O importante, para não deixar que os medos nos carreguem, é tirar o peso dos ombros, relaxando, confiando na vida e tendo certeza de que coisas boas virão, se esperarmos por elas. Não temos que assumir responsabilidades por ninguém, basta-nos as nossas próprias limitações... cada um pode e deve viver sua vida. Inclusive as pessoas que mais amamos. Saber isto e viver isto já alivia, e muito, o medo em relação aos seres amados. Talvez seja o momento de perguntar: tenho medo do que? De perder prestígio, amores, amigos? Bem, quem gosta realmente de nós não está preocupado com nosso prestígio, ou com o que temos, mas sim com o que somos, e com o que significamos na vida deles. O mundo não vai desabar se soltarmos os problemas, se descansarmos deles, pelo menos daqueles que não são necessariamente nossos.

Vale, também, um momento de reflexão e questionamento: será que estamos fazendo o que realmente gostamos, estamos vivendo a vida que escolhemos, ou nossa vida é apenas aquilo que querem de nós, que escolheram para nós? Se a resposta for a alternativa "b", o medo com certeza está presente. Quando se vive pelos outros, no modelo do que querem de nós, é claro que o medo é maior, até o momento em que uma doença vem e nos faz parar com tudo. Aí, as pessoas que esperam que façamos tudo por elas vão aprender a se virar sozinhas, com certeza. Tomara que não precisemos disso para reagir e perder o medo de fazer o que queremos e ser como gostaríamos!

E para finalizar, gostaria de dizer algo sobre a coragem, que não é apenas aquilo que se faz "por fora", os atos de heroísmo que implicam salvamento de outras pessoas, atos de bravura, que saem nos jornais e são elogiados. A coragem verdadeira começa dentro de nós, no momento em que acendemos a luz da razão sobre nossos medos, e eles deixam de ser tão ameaçadores. A coragem autêntica nos impele à mudança, a uma nova forma de ser, talvez mais solta, com certeza mais feliz...Pense nisso!




Como sempre, em dias assim.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Coisas do coração

- Caramba, essa foi fácil - disse ela.

- Fácil pra você...eu diria.

- Estou tentando...insistiu ele.

- E será mais difícil ainda amanhã - continuou ele - Fiquei com o teu cheiro na minha cabeça o dia todo e vou ficar incrivelmente desestabilizado. Se ficar longe de você por qualquer período de tempo, terei que começar de novo. Não do Zero, imagino!

-Então não vá embora - Disse ela.

- Isso é bom pra mim - respondeu ele, o rosto relaxado num suave sorriso - COLOQUE OS GRILHÕES...Sou seu prisioneiro. - Mas suas mãos formavam uma algema nas mãos dela. E ele sorriu como NUNCA o fizera antes.

- Você parece mais....otimista que de costume - Ela observou - Não o vi assim antes.

- Não é para ser assim? - Ele retrucou - A glória do verdadeiro amor, essas coisas. É inacreditável, não é, a diferença entre ler sobre uma coisa, vê-la em fotos e experimentá-la? (Ela insistia muito nessa história.)

- Muito diferente. - ela concordou. - Mais poderoso do que imaginei. Concluiu.

- Por exemplo a distância - Ele refletiu - Eu luto todas as noites para ver você dormir, com o abismo entre o que eu sabia que era o certo, moral, ético, e o que eu queria de fato. Aprendi com o tempo que com essas coisas do coração não se brinca. Não se luta. Não se entende. Eu sabia o que era o amor, mas nunca havia entendido o que era o amor de verdade. - E ele chorou ao afirmar isso perante seus olhos castanhos.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Desprovido

"Seus sintomas?
Um calor gélido e ansiado na boca do estômago.
Uma sensação de: o que é mesmo que se passa?
Um certo estado de humilhação conformada o que parece bem vindo e quisto.
É mais fácil aturar a tristeza generalizada
Que romper com as correntes de preguiça e mal dizer.
Silenciam-se no holocausto da subserviência
O organismo não se anima mais.
E assim, animais ou menos assim,
Descompromissados com o próprio rumo.
Desprovidos de caráter e coragem,
Desatentos ao próprio tesouro...caem.
Desacordam todos os dias,
não mensuram suas perdas e imposturas.
Não almejam, não alma, já não mais amor.
Assim são os insetos interiores."

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Licença poética

A casa estava vazia. O ensejo perfeito para transformar sua louca idealização num polêmico fato. Cometeria um suicídio artístico. O lusco-fusco se aproximava e logo o sol se despediria para aquele dia, e junto dele, ela daria adeus para a vida. Estando o céu tingido de vermelho, a sua pele estaria tingida de sangue. Significaria o crepúsculo de sua existência, a transição, o marco. Pegaria carona com o negro, o negrume da noite seria a última coisa que veria, como um "fade out" para sua atual realidade. A penumbra comporia a pintura a marcar sua extenuação, como no quadro “Noite sobre Ródano”, de Van Gogh. As luzes banhariam seu corpo refletindo nele como se fosse um rio. Ela naufragaria deitada sob a janela aberta para o céu agressivamente pincelado: o retrato da paz nocauteado pelo desespero do medo, da morte. Como era uma ocasião especial, ela se arrumou como noiva. Estava linda, pronta para casar, pronta, para morrer.
 

Caminhou com os pés descalços até a cozinha e apanhou uma faca de açougueiro. A arma perfeita: experiente em ferir a carne; com pós-graduação em corte; com o cheiro de sangue ali esquecido, impregnado. Seria um golpe único, certeiro. Criaria coragem e após respirar fundo – sem pensar e mirando o coração – empurraria a lâmina com força enterrando-a no tórax. Um corte ágil, como um mergulho em água gelada. A dor abraçaria seu corpo e logo ela não sentiria mais nada, afinal, estaria morta. Cravaria a faca no peito, no coração. Rápido e eficaz. Precisava sangrar e sentir a dor, rasgar a pele, dilacerar seu interior.
 

Tal frenesi, na verdade, se tratava de um suicídio interno, planejado, metafórico. Elaborou se esparramar em sua loucura nua como nasceu, deitada na posição de um bebê no ventre de sua mãe, com as luzes do mundo a cortar o breu da sala escura iluminando sua nudez vestindo aquilo. Sentia-se sufocada e presa e incapaz, como uma lagarta no casulo. Carecia do desmoronamento dessa barreira que a cercava. A facada no peito significaria o rompimento do casulo, a demolição do muro, a sua liberdade. Como uma borboleta passaria a ter asas e encontraria o seu voo, se tornaria uma nova mulher. Esqueceria tudo o que quer esquecer, superaria tudo o que quer superar. Forrou o chão com um lençol branco para não deitar no piso gelado e para que o lençol sorvesse seu sangue. Tudo teria um significado. A nudez: o renascimento; o sangue absorvido: a declaração de independência do passado, como um documento, a prova por escrito de seu delito; a cicatriz: a assinatura, a marca perpétua que a faria lembrar que ela precisou se cortar para ser livre. Pensou inclusive em filmar seu delírio tendo a câmera como cúmplice de sua metamorfose, mas logo ignorou a hipótese porque o olho mecânico tiraria a inocência da coisa e tornaria sua liberdade em algo teatral ao roubar a sinceridade do ato.
 

O plano era perfeito. Alguém a encontraria deitada no chão abrangendo seu corpo, abraçando o crime, encolhendo-se em si mesma, tremendo. E a carregaria no colo como uma mãe segura seu filho que acabou de nascer, ainda embalsamado no sangue e envolvido num pano a protegê-lo: o mesmo sucederia com ela. Levada ao hospital ouviria vozes ecoando ao seu redor questionando sua atitude e sua sanidade, mas ninguém a entenderia. Na maca um sorriso não se ocultaria de seus lábios apesar das lágrimas de dor. Estaria livre, e ninguém a entenderia. Seu desvario consistia num grito de socorro, como se sua alma fosse o corpo e o corpo a alma. Achava que ao ferir o corpo atingiria também a alma. A ferida: a cura; o sofrimento: a cicatrização da alma.
Deslocou-se para a sala e parou em frente à janela, o lugar marcado para morrer, ou renascer. Esticou os braços acima da cabeça segurando com as duas mãos a faca voltada para ela. Levantou seus olhos e viu a lâmina mirando o alvo, pronta para infligir à lei do bom senso. Após semanas de ensaio e preparo psicológico, finalmente estava na posição para dar a largada e colocar em prática sua insanidade, a sua salvação. Ao enxergar a morte na palma de suas pequenas mãos ela pode sentir seu coração rasgar e sua alma se contorcer. Seus braços começaram a tremer, a dúvida tomou conta dela, o medo estava lá. Fechou os olhos. Talvez devesse tentar de olhos fechados, como fechava os olhos para tudo na vida, menos para o medo, e dessa vez, tentava não enxergar o medo, o medo que na verdade era a vontade de viver gritando, e o único medo que ela tentava ignorar era o medo de morrer. Mas, apesar dos olhos cerrados a imagem da faca permaneceu viva e ameaçadora. De súbito toda certeza desapareceu e a dúvida a invadiu como um ladrão, sem ser convidada, e de praxe roubou sua convicção no ato tenebroso que prometia transformá-la. Mas, qual a certeza que essa tal transformação ocorreria de fato? “E depois?”, pensou, “como conviver com as pessoas perguntando sobre a cicatriz? Como encarar a condenação de seus olhos, o julgamento, as fofocas? Ninguém jamais me entenderá. E se eu morrer de verdade?”. Questionamentos que a fizeram retroceder no ato que significaria uma ruptura em sua vida.
 

Acalmando os nervos, trouxe a lâmina para perto do peito e levemente a encostou como quem molha os pés antes de um mergulho para verificar se deve ou não pular. Sentiu uma picada aguda que doeu de modo que seu corpo estremeceu de pavor. Se uma leve beliscada já provocara certo desequilíbrio em sua convicção, o fim de uma apunhalada talvez não rumasse para o que tanto almejava. “Eu só queria mudar”, dizia para si mesma com o ânimo desabado, com o corpo desabado no chão, de joelhos, com lágrimas a escorregar em sua delicada face.
Ela não sabia, mas já cometia suicídio todos os dias. O suicídio do remorso, o suicídio de viver no passado, o suicídio de viver a lamentar. Queria mudar: mudou de casa, mudou o guarda-roupa, o penteado, as amizades, tudo o que restou. Mas não mudou os hábitos, e no fim não mudou nada.


Largou a faca, largou seu plano, largou a loucura. Levantou-se, mas se levantou como se estivesse se reerguendo para a vida. O seu teatro não tinha sido em vão. Não seguiria o roteiro ao pé da letra, mas faria uso da metáfora, ou tentaria. Tomou um banho gelado, afinal também cortava a carne, arrepiava a pele. Preparou um chá com biscoitos e foi ver um filme. Conformou-se com sua inconformação.

Como a luz de uma vela que fere a escuridão com seu fulgor vacilante e um sopro inimigo pode apagar sua chama e fazê-la morrer tão rápido quanto foi acesa; assim é a sua esperança que no abismo pode levá-la a cair ao ser apagada por um vento contrário.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Dois sóis.

Andando pelos caminhos que às vezes descubro, caio do mais alto sonho...
E no trajeto há sorrisos que brilham, olhares que iluminam, manhãs e noites que irrompem faiscantes em cima do horizonte...
E, para além da curva celeste, ou a do seu corpo, a claridade incessante de um farol que apaga da Via-Láctea a ideia da noite.
Tal qual um passo que acha seu rumo, um rio que acha seu curso, um barco que acha seu porto, uma alma que acha a sua.
Fecho os olhos e neste esvoaçar de memórias que entrelaço, me encontro. Te encontro.
Como quem perdesse a noção do tempo para ganhar a dimensão do espaço, ficamos acordados.
E nessa vida, nesse rumo, há sóis espalhados por todas as noites que passamos em claro. A sós. 

domingo, 1 de junho de 2014

Metáfora

as horas voam
os pássaros passam
eu perco o passo
e não voo

mas não sou relógio
nem pássaro
sou uma metáfora

sou nada até descobrir
o que ser uma metáfora significa
sou nada até encontrar
meu significado
só então poderei ser
tudo.

Simples assim.