sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Incompreensível

Talvez o ônibus não passe nunca. Quando ele passar, o trânsito vai me irritar. Assim como quando estou ao volante. Eu vou desejar muito que algo me distraia, mas é impossível ouvir uma música enquanto o trânsito me atrasa para chegar ao meu destino. Forçar a atenção, ou qualquer gesto que vai contra essa permanente tensão, me dá tontura. Começar algo sem ter a certeza do cenário final, para uma mente ansiosa, é no mínimo frustrante. Minhas mãos vivem suadas. E eu sei o motivo. Mas explicar a sensação de que algo vai dar errado, que o carro irá bater, o céu escurecer, é completamente incompreensível. É completamente incompreensível sentir náusea por não conseguir arrancar uma pele do dedo.

Quero que esses apagões de memória parem, os de sentimento também. Quero que meus gatilhos respeitem o tempo, porque é completamente incompreensível sair de um lugar e esquecer que devo voltar. É completamente incompreensível pensar antes do acontecimento e não atravessar a rua porque algo te faz crer que um carro vai te atropelar. É completamente incompreensível você dizer por ai que vive com sono, mas não consegue dormir direito por medo.

Esperar enfartar a qualquer momento é muito incompreensível. Quem teria a coragem de contar a um amigo: “Eu tenho certeza que vou enfartar.” Ninguém.
Ninguém falaria para um amigo porque isso é completamente incompreensível. 

É completamente incompreensível prevenir sofrimento, como se esse tivesse data e hora marcada.

É completamente incompressível achar que alguém entende completamente o que eu escrevo.


É completamente incompreensível ser uma pessoa ansiosa.

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